Chegou ao fim na última sexta-feira (13), a novela Império de Aguinaldo Silva, o que podemos falar desta obra desse renomado autor. Não é o mesmo Aguinaldo impecável e perfeito de "Senhora do Destino" (2004) ou do final ruim de "Fina Estampa" (2011), mesmo tendo gostado muito desta trama; porém Império teve milhões de acertos e caiu no gosto popular, recuperando a audiência do horário, que tinha despencado com a trágica "Em Família" (2014), de Manoel Carlos.
Meses antes da estreia, o próprio Silva declarou que sua intenção era fazer um "folhetim desvariado" e agora no final da trama, diz que saiu exatamente do jeito que planejou. _ Fiz o que queria: um novelão, um folhetim desvairado. Mas isso não teria sido possível se toda a equipe que participou do trabalho não deixasse o pudor e o senso de ridículo de lado e mergulhasse de cabeça no melodrama e no dramalhão — afirma o autor em reportagem ao Jornal O Globo.
Apesar de alguns problemas no meio do caminho, como a alardeada substituição de Drica Moraes (a Cora da segunda fase) por Marjorie Estiano (que viveu a vilã nos primeiros e nos capítulos mais recentes) foi capaz de abalar a produção.
O sucesso da trama e a ótima audiência se deve muito aos bons ganchos e ótimo ritimo do texto de Aguinaldo, o que a novela antecessora não tinha, também com uma direção de primeira de Rogério Gomes (o Papinha) e equipe. Além do que um elenco magnifico e afiadíssimo, dando um show de interpretação.
Algumas pessoas no meio do folhetim, no entanto, ficaram um pouco decepcionadas ao perceber que algumas coisas pra elas, estavam perdendo a lógica, ao termos soluções pouco verossímeis como o relacionamento entre Silviano (Othon Bastos) e Maurílio (Carmo Dalla Vecchia): retratados no começo como desconhecidos, quase inimigos, são, na verdade, pai e filho. Todavia isto em minha concepção, não foi uma falha ou uma solução pouco plausível, foi uma forma de mostrar que por dentro do ser humano existe vários esqueletos escondidos.
Um dos maiores acertos da novela foi um protagonista forte e carismático, há muito tempo não se via um protagonista masculino brilhar tanto numa novela, o sucesso de José Alfredo, vivo magistralmente por Alexandre Nero (que por sinal Aguinaldo brigou muito para tê-lo no papel). Foi um verdadeiro show de Nero, mostrando mais uma vez o quanto ele é um ator brilhante. Já tinha trabalhado com o autor em "Fina Estampa".
Também tivemos uma mocinha batalhadora, bem diferente das últimas protagonistas Helena (Júlia Lemmertz) e Luiza (Bruna Marquezine) de "Em Família" e Paloma (Paolla Oliveira) de "Amor à Vida". Cistina vivida muito bem por Leandra Leal, corria atrás, era uma mulher totalmente objetiva e não ficava de chororó, como as três últimas. Aguinaldo também acertou nesse ponto.
O elenco foi uma constelação, quase todos brilhando, tivemos personagens complexos, com ótimas histórias. O Comendador José Alfredo de Medeiros, foi um verdadeiro anti-herói que o público amou, torceu, vibrou do início ao fim. Como diria o autor Nilson Xavier, dono do site "Teledramaturgia" e autor do livro " Almanaque da Telenovela Brasileira", - José Alfredo é um dos melhores anti-heróis de nossa Teledramaturgia, desde Beto Rockfeller (Luiz Gustavo na novela homônima de 1968) e Carlão (Francisco Cuoco em “Pecado Capital“, 1975-1976).
O que ficou na promessa mesmo foi Drica Moraes transformar Cora numa vilã memorável, como já citei a atriz teve que se afastar da trama e Marjorie Estiano (a substituiu), por sinal brilhantemente, fez um esforço gigante, para não deixar a peteca cair. Porém Cora não foi totalmente uma vilã, foi uma personagem que morreu de amor pelo homem que tanto amou. Foi uma psicopata e não lembrou em nada a Cora das chamadas e até da primeira fase que prometia muito, que também foi interpreta por Marjorie. Acredito que Aguinaldo, tenha feito tanto suspense mostrando que Cora seria uma grande vilã, além de querer garantir a audiência, também despistar o público que o grande vilão seria José Pedro, vivido por Caio Blat. Mesmo ficando um pouco decepcionado com o rumo que Cora tomou, não desgosto da personagem, cumpriu bem o seu papel; foi importante e só ajudou no seguimento da trama.
Depois de tantos anos de parceria, Aguinaldo trocou de diretor, deixou de lado Wolf Maia, que foi seu parceiro em "Senhora do Destino" (2004/2005), "Duas Caras" (2007/2008), "Cinquentinha" (2009), "Lara com Z" (2011) e "Fina Estampa" (2011). A troca foi por Rogério Gomes, que já citei aqui, arrasou na direção, muito elogiado.
Quero parabenizar a todos pelo trabalho, repito o elenco esteve afinadíssimo, Alexandre Nero inesquecível. Cito outros nomes aqui como Joaquim Lopes, Andreia Horta, Daniel Rocha, Paulo Rocha, Roberto Pirilo, Marina Ruy Barbosa, José Mayer, Suzy Rêgo, Zezé Polessa, Tato Gabus Mendes, Caio Blat (que teve um dos melhores personagens de sua carreira), Othon Bastos, Dani Barros que fez de Lorraine com seu talento uma personagem significativa pra trama. Jamais vamos esquecer de Téo Pereira, o fofoqueiro, meio vilão cômico, nos fez dar muitas risadas e torcer por ele. Paulo Vilhena mostrando que a cada dia que passa, amadurece mais como ator, fazendo o esquizofrênico Salvador. Ailton Graça totalmente diferente de outros papeis, uma caracterização perfeita, como Xana, nos fazendo dar boas risadas, uma dupla fabulosa com Viviane Araujo, que foi uma revelação para o público (não esperava que Vivi fosse atuar tão bem, estava com receio de sua atuação).
O ponto negativo do elenco sem duvida nenhuma foi Rômulo Arantes Neto, meu Deus até quando este ator nos fará sofrer com péssimas atuações, é constrangedor vê-lo em cena.
Algumas falhas que reparei no decorrer da novela. Personagens como Claudio Bolgari (José Mayer) e o trambiqueiro Severo (Tato Gabus Mendes), pai de Maria Isis (Marina Ruy Barbosa), circulando de casaco e blusa de frio, num calor gigante, em pleno verão no Rio.
Muitos spoilers sobre a trama na internet, principalmente no site da Globo, acho que poderiam ter menos spoilers, isto deixou muita gente incomodada.
Alguns erros de continuidade, numa cena vimos Magnólia (Zezé Polessa), usando o celular de cabeça pra baixo ao falar com Beatriz (Suzy Rego), Mag falava na direção da saída de som, próximo à câmera frontal do aparelho.
Cenas que começavam de dia e do nada, estavam a noite ou na madrugada, como por exemplo, no dia da prisão de Maurilo, que consequentemente foi no dia do jantar que Claudio daria, Zé tinha marcado de encontrar com Josué a meia noite, e ninguém ainda tinha ido pro restaurante, como assim o jantar começou altas horas da madrugada?. Esse tipo de coisa, aborreceu um pouco o telespectador.
O final da trama entrou para história da TV, o protagonista tão amado pelo público morreu assassinado pelo próprio filho. E Aguinaldo estava certo em matar o Comendador, mesmo que parte do público não gostasse ou não entendesse sua morte, que foi coerente. Se o final de Zé fosse saber se ele ficaria com Ísis ou Marta, mulheres que o amaram imensamente, cada uma a sua maneira, ficaria pobre. O personagem de Zé foi épico e viveu uma batalha com o próprio filho.
Um final fora do convencional, muito inteligente, com certeza final Shakespeariano, lamentavelmente alguns não entenderam a dramatização. Também lembra do filme "A Mulher de Preto". Nada convencional, que muitas vezes ocorre, algo realmente inteligente. Dramatização Shakespeariana em cima de mortes entre pai e filho/filho e pai. As mulheres reverenciando e imortalizando seu "Rei", e a continuidade da linhagem.
Parabéns Aguinaldo, equipe e todos envolvidos neste novelão, deixará saudades.
Que venha Babilonia!.
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