O eco eterno de Freddy Rincón, autor do gol mais gritado da história da Colômbia
Antes de fazer história por Corinthians e Palmeiras, clubes cujas torcidas hoje o elevam ao merecido pedestal de um dos maiores da história, Freddy Rincón já era um dos referentes daquela que pode ser considerada a maior geração colombiana de todos os tempos.
O portentoso meio-campista nascido na cidade de Buenaventura, no Valle del Cauca, que por isso recebeu a alcunha de "El Coloso de Buenaventura", marcou época junto de Leonel Álvarez, Carlos Valderrama, Faustino Asprilla e outras joias cafeteras que em 1990 levaram a Colômbia a uma Copa do Mundo após 28 anos -- a única que o país havia disputado fora em 1962.
Se a façanha que marcou aquela geração aconteceu nas Eliminatórias, em 1993, a avassaladora goleada de 5 a 0 contra a Argentina em pleno Monumental de Núñez, quando Rincón inclusive marcou duas vezes, o gol mais gritado pelos colombianos ocorreu anos antes, naquele Mundial da Itália. Pela última rodada da fase de grupos, o selecionado de Francisco Maturana enfrentava ninguém menos que a Alemanha e precisava no mínimo de um empate para avançar às oitavas de final como um dos melhores terceiros colocados.
No campo do estádio Giuseppe Meazza, em Milão, a futura campeã do mundo se deparou com o arrebatador estilo colombiano daqueles incipientes anos noventa, que não apenas lhe fez frente como criou as melhores chances durante a partida -- e ainda dispunha da impagável performance de René Higuita, fazendo troça diante dos fleumáticos alemães, em atuação que merecia, ao mesmo tempo, um Nobel e uma Copa do Mundo.
A Colômbia estava mais assanhada do que uma noite em Cartagena. No vídeo abaixo, a um minuto, podemos perceber Freddy Rincón fazendo miséria pela ponta-esquerda, lance que culminou em mais uma chance desperdiçada. A equipe sul-americana já contava os segundos para o jogo acabar quando uma arremetida dos meias alemães encontrou Littbarski solto na área, e daí para as redes de um subitamente impotente Higuita, aos 44 do segundo tempo.
Se Dios não joga, certamente gostava de ver aquela Colômbia jogar. Quando tudo parecia perdido, Álvarez retomou uma pelota ao lado da área e partiu para o ataque, chamando Luis Fajardo e daí para Valderrama, que tramou com Rincón. A bola voltou para os pés do Pibe de cachos dourados, enquanto Freddy disparava como um bólido pela meia direita, em direção à grande área. Carlos Valderrama executou um passe magistral e Rincón teve a sabedoria de esperar o arqueiro Illgner mostrar a janela entre as pernas para cutucar a pelota suavemente.
Na Colômbia, jamais se gritou tanto um gol. O país ecoava a comemoração de Freddy Rincón, que antes de ser encoberto pelos companheiros correu para a margem do campo com as feições em êxtase e um desafogo nascendo do fundo da garganta. O meia correu diretamente para onde estava posicionado o fotógrafo José Clopatofsky, que eternizou a imagem (que ilustra o vídeo) onde já se percebia mais que um jogador -- era alguém que fazia os colombianos viverem a maior alegria proporcionada pelo futebol.
Os colombianos seriam derrotados por Camarões nas oitavas. Muito tempo depois, em 2014, realizaram sua melhor campanha em Copa do Mundo, alcançando as quartas de final. Aquela jornada italiana de 19 de junho de 1990, no entanto, provocou a maior catarse simultânea em um país de colossais proporções, que teve como estopim a disparada do impetuoso meio-campista, espelhada no próprio rosto transtornado pela felicidade de Freddy Rincón.
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