terça-feira, 15 de março de 2022

Curiosidades sobre " Que Rei Sou Eu?"

 Apontada por muitos como a melhor novela de Cassiano Gabus Mendes, uma das melhores do horário das sete da Globo e da história da TV, " Que Rei Sou Eu?" é um verdadeiro marco.

Coloco aqui curiosidades sobre esse histórico folhetim.


Trama atemporal

A história se passava no fictício Reino de Avilan, pouco antes da Revolução Francesa (1789), e parodiava a realidade brasileira por meio da miséria do povo, da instabilidade financeira, dos sucessivos planos econômicos, da moeda desvalorizada que mudava de nome, da elevada carga de impostos e da corrupção dos governantes.

Apesar de ambientada no século 18, a trama fazia referências à contemporaneidade, explorando temas que estavam nas manchetes de jornais na época de sua exibição. Porém, vista hoje, continua atual, já que pouca coisa mudou nos hábitos de nossos governantes.

Em alusão ao Plano Cruzado – pacote econômico lançado pelo governo em 1986 e que envolveu congelamento de preços e mudança da moeda nacional -, o autor incluiu na trama uma reforma monetária, trocando o nome da moeda de Avilan de caduco para duca, e tirando três zeros do seu valor.

Além disso, os nobres do palácio podiam ser vistos dançando samba, enquanto a princesa Juliette (Cláudia Abreu) surpreendia a corte vestindo minissaia.

Em determinado momento da trama, o conselheiro Crespy (Carlos Augusto Strazzer) sugere que se acabe com os postos de pedágio nas estradas de Avilan, substituindo-os por selos que seriam comprados mensalmente e colocados na testa dos cavalos – em uma alusão aos selos-pedágios que existiram no Brasil naquela época.

Personagens na vida real

Vários personagens eram referências quase diretas aos seus “representantes” na vida real.

A Rainha Valentine (Tereza Rachel) remetia ao então presidente José Sarney; o conselheiro Vanoli (Jorge Dória) ao político baiano Antônio Carlos Magalhães; o justo conselheiro Bergeron (Daniel Filho) ao ex-Ministro Dilson Funaro; e o bruxo Ravengar (Antônio Abujamra) ao General Golbery.

Ao final, Ravengar, desaparecido, reaparece sob o nome de Richelieu Rasputin Golbery. O nome fazia a junção de referências ao Cardeal Richelieu (1585-1642), um dos líderes do Absolutismo francês, Grigori Rasputin (1869-1916), mentor espiritual do último czar russo, e ao General Golbery do Couto e Silva (1911-1987), um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI), que prestou serviços ao Governo Militar.

Novela Pró-Collor

O Brasil vivia a euforia da eleição direta de 1989, quando o presidente da República iria ser eleito depois de um jejum de 29 anos, tendo Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula da Silva como principais concorrentes.

Entre tantas semelhanças com a realidade, não faltaram vozes a acusar a novela de ser um veículo a mais para conduzir o então candidato Collor à presidência, já que enxergaram o político na figura do herói da trama, Jean-Pierre, vivido por Edson Celulari.

Elmo Francfort, em seu livro “Gabus Mendes, Grandes Mestres do Rádio e Televisão”, afirmou que essa nunca foi a intenção do autor. Ele pretendia que Jean-Pierre representasse o povo brasileiro, cansado de sofrimento e querendo justiça e igualdade social a todos.

Na mesma época, ia ao ar, no horário das oito, a novela O Salvador da Pátria, de Lauro César Muniz, por sua vez acusada de fazer apologia à campanha de Lula, já que enxergaram o político na figura do protagonista Sassá Mutema (Lima Duarte).

Ideia antiga

Cassiano apresentou a ideia de Que Rei Sou Eu? à Globo nos anos 1970, mas foi recusada. Daniel Filho narrou em seu livro “O Circo Eletrônico”:


“Em 1977, Boni sugeriu que eu falasse com Cassiano Gabus Mendes para que escrevesse a próxima novela das oito. Ao ser consultado ele foi categórico (…) – Eu quero fazer uma história engraçada de capa e espada. Uma sátira! – Achamos absolutamente fora de propósito. (…) Dez anos depois, no final do governo Sarney, Cassiano propõe de novo a mesma história, agora para o horário das sete. (…) Indiscutível o sucesso de Que Rei Sou Eu?. Mas será que teria êxito no final da década de 70?”

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho explicou em seu “Livro do Boni”:

“Não topei por dois motivos: Roque Santeiro tinha sido proibida e uma comédia chanchada às 20 horas seria uma temeridade.”

Somente em 1988, com o fim oficial da Censura Federal, a emissora aceitou levar adiante o projeto de Que Rei Sou Eu?.

Destaques no elenco

Entre eles, os atores que viveram os conselheiros do reino de Avilan, em uma crítica ao Congresso Federal: Daniel Filho (Bergeron Bouchet), Jorge Dória (Vanoli Berval), Carlos Augusto Strazzer (Crespy Aubriet), Oswaldo Loureiro (Gaston Marny), John Herbert (Bidet Lambert), Laerte Morrone (Gérard Laugier) e Guilherme Leme (Roland Barral).


Antônio Abujamra marcou sua presença e será sempre lembrado como o bruxo Ravengar. Também brilhou Tereza Rachel, como a devassa e histérica Rainha Valentine, em uma caracterização inesquecível – assim como suas gargalhadas agudas.

No papel do bobo da corte Corcoran, Stênio Garcia, então com 57 anos, deu o seu primeiro salto mortal, resultado do trabalho corporal de acrobacia de solo que passou a fazer na Escola Nacional de Circo.

Dercy Gonçalves fez uma participação especial em seis capítulos da novela, no papel da baronesa Eknésia, mãe da rainha Valentine. Sua atuação mereceu destaque como um dos pontos altos da trama.

Futebol

O jogador de futebol Roberto Dinamite também gravou uma participação na novela, juntamente com o ator Luis Gustavo. Seus personagens vinham da Inglaterra ao Reino de Avilan apresentar um novo esporte à corte: o foot-ball.

Luis Gustavo era Charles Miller (nome do inglês que introduziu o futebol no Brasil) e Roberto Dinamite era o jogador Bobby, que tentou ensinar os conselheiros de Avilan a jogar futebol.




Carnaval

Em 1989, a escola de samba Beija-Flor – do carnavalesco Joãosinho Trinta – participou do carnaval carioca com o samba-enredo “Ratos e Urubus Larguem Minha Fantasia”. Apesar de ser uma das favoritas, a escola não se sagrou vencedora naquele ano (perdeu para a Imperatriz Leopoldinense).

Na trama de Que Rei Sou Eu?, Cassiano – em uma homenagem a Joãosinho Trinta – criou um baile de carnaval no castelo de Avilan onde os nobres dançaram o refrão do samba da Beija-Flor em ritmo de minueto, fantasiados de mendigos.

Caso Naji Nahas

Chico Anysio chegou a gravar uma participação como o especulador estrangeiro Taj Nahal, que aplicaria um golpe na bolsa e no mercado de Val Estrite, do Reino de Avilan.

A situação foi inspirada no caso Naji Nahas, o investidor paulista que, na época, protagonizava um escândalo financeiro no país e respondia a um inquérito por estelionato e formação artificial de preços na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Ao saber da criação de Taj Nahal, o advogado de Naji Nahas entrou com um protesto judicial contra a TV Globo, afirmando que o personagem fazia um pré-julgamento de um cidadão que ainda não havia sido sentenciado pela Justiça, e que seu cliente exigiria direito de resposta no mesmo programa, caso a novela fizesse alguma referência satírica aos últimos acontecimentos.

Diante disso, a emissora decidiu não exibir as sequências.

Abertura

A abertura da novela, desenvolvida pela equipe de Hans Donner, mostrava, por meio de oito sequências cômicas, conflitos da história da humanidade: dois homens das cavernas lutando, romanos em bigas, vikings guerreando, um duelo entre cavaleiros medievais, franceses em guerra, fuzilamento de soldados napoleônicos em marcha, a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.

Por fim, uma ambientação futurista, em cenário e figurinos espaciais. Na sequência, a imagem retrocedia até o período napoleônico, indicando o ponto na história em que acontece a trama de Que Rei Sou Eu?. No final, a guilhotina caía e a coroa voava, fazendo surgir o logotipo da novela.

O tema de abertura, “Rap do Rei”, foi composto por Boni. A música foi gravada pela banda Luni, cuja vocalista era Marisa Orth – ainda desconhecida do grande público -, integrante do grupo antes de estrear como atriz de televisão.

Novela premiada

Que Rei Sou Eu? foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor novela de 1989. Também foi premiada como melhor texto (para Cassiano Gabus Mendes), melhor ator coadjuvante (para Jorge Dória) e melhor figurino (juntamente com Kananga do Japão, da TV Manchete).

Foi premiada ainda com o Troféu Imprensa de melhor novela e melhor atriz, para Tereza Rachel (empatada com Joana Fomm, pela novela Tieta).










2 comentários:

  1. poderiam reprisar para darmos risadas mediante a tanta tragedia...e sangue nos canais sensacionalistas

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  2. ela já esta disponível no Globoplay

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