sábado, 26 de março de 2022

Balanço final

 

Chegou ao fim "Um Lugar ao Sol"

Ontem (25), sexta-feira, foi ao ar, o último capítulo de "Um Lugar ao Sol", folhetim de estreia de Lícia Manzo no horário nobre. E lamentavelmente a trama ficará marcada com um verdadeiro fracasso, a obra amarga um título nada agradável: a pior audiência da história na faixa – média de 22 pontos no Ibope da Grande São Paulo. E não merece isso de jeito algum, apesar dos problemas ocorridos no meio dessa trajetória.

São inegáveis as qualidades da novela, da direção ao elenco bem escalado. Principalmente o texto da autora, reconhecido como um dos melhores de nossa TV, com diálogos ricos que levam à reflexão, tramas repletas de dilemas humanos, personagens de várias camadas e discussões de interesse da sociedade.

Coloco "Um Lugar ao Sol" como a novela certa, porém no momento errado, pois estamos de uma ressaca do período de pandemia. Na minha concepção isso não deveria ser um fator para a trama flopar, mas o público que muitas vezes é chato, reclamou de sua trama  densa, com personagens sofredores e convites à reflexão não correspondia à expectativa do telespectador. Alguns aderiram, porém infelizmente a maioria ainda queria a fantasia exacerbada em vez da realidade pouco atraente nesses tempos difíceis.

Emissora boicota seu próprio produto

Infelizmente "Um Lugar ao Sol" foi tratada como um tapa buraco pela Globo. A emissora foi extremamente negligente na divulgação da novela.  A emissora sempre tratou-a como um tapa-buraco para o “grande lançamento” de 2022, o remake de "Pantanal".

Tanto que, mesmo antes da estreia de "Um Lugar ao Sol", "Pantanal" já recebia os holofotes em grande estilo, muito mais que a novela de Lícia Manzo. Um desrespeito total com o produto, com os atores, com autora.

Muito se falou também, que ocorreu a falta de opinião popular, pois, a novela foi ao ar já totalmente escrita, o que a levou à contramão de um dos pilares do folhetim: a aferição do público.

No século 19, José de Alencar já consultava seus leitores para saber se aprovavam suas histórias parceladas publicadas em rodapés de jornais (os folhetins), quem dirá nos séculos seguintes, em que os grupos de discussão tornaram-se necessários, às vezes imprescindíveis.

Por outro lado, Lícia Manzo conseguiu manter-se fiel à originalidade de sua obra – o sonho de todo roteirista.

Ai fico me perguntando, o que a autoria teria mudado se pudesse ouvir a audiência? Teria feito concessões a casais “shippáveis“? Teria adicionado mais humor? Teria mudado rumos de personagens contrariando sua ideia inicial?

"Um Lugar ao Sol" entregou meses de sessões de terapia e discussões dramáticas em que nem mesmo bonitas frases de efeito e personagens leves e sutis foram capazes de aplacar o peso das abordagens. Certas pessoas afirmam que sentiram falta de humor, que novela tem existir nem que seja um pouco de alívio cômico. Deixo bem claro aqui, não senti falta de alívio cômico e não acho que toda novela precisa de humor. 

E a própria Lícia já nos provou isso, com pouco (ou nenhum) alívio cômico, características de suas novelas anteriores, A Vida da Gente (2011-2012) e Sete Vidas (2015). Repito, eu não senti a mínima de falta de humor, isto não é trama de Walcyr Carrasco. 

Mais uma vez a Globo ferrou a novela com uma reedição. "Um Lugar ao Sol" estava quase na metade de sua exibição quando desceu uma ordem da alta direção: a novela precisaria ficar mais uma semana no ar, para atender às gravações atrasadas de "Pantanal".

Quando a obra é “aberta”, ou seja, é escrita à medida em que é exibida, o impacto não é grande. Porém, a trama de Lícia Manzo já estava fechada, com capítulos editados.

Por duas ou três semanas, o que se viu foram a reedição de cenas e cortes malucos com o objetivo de fazer a novela render mais.

Isso prejudicou um grande princípio do folhetim: o “gancho“, o clímax ao final do capítulo que dá continuidade à trama no dia seguinte. Sem o gancho, não há fidelidade do público, da audiência.

Muita gente reclamou também de apelo popular, que Lícia não tem (mesmo tendo feito enorme sucesso no horário das 6), ela possui um texto incrível. Existe uma máxima na televisão que afirma que “pobre gosta de ver rico na TV“. Gilberto Braga e Manoel Carlos foram os que melhores a absorveram. A questão é que Gilberto e Maneco eram populares, com personagens cativantes e tramas folhetinescas e dinâmicas.

Nesta comparação para muitos Lícia se perde, mesmo com um texto lindo, profundo, muitos dizem que a autora carrega um certo pedantismo, colocando na boca de personagens elitizados expressões que não são usuais ou desconhecidas do grande público. Prece que para o povão soa pernóstico e cria uma má vontade da audiência com o folhetim. 

Ouvir algumas pessoas nas ruas, dizendo que a autora não está falando apenas a uma elite, mas ao povão. É meio que para essas pessoas uma regra do folhetim, falar com o povão, todavia qualidade de texto Lícia tem de sombra. 

Todavia não só vi críticas a "Um Lugar ao Sol", segundo dramaturgo e diretor teatral, Lucas Martins Néia, ele afirma sobre o último capitulo "Fiquei com a mesma sensação que tive ao ver o fim de #AVidaDaGente (2011) e  #SeteVidas (2015) - não é que a história termina na última cena: nós é que deixamos de acompanhar a vida das personagens naquele momento. Elas ainda têm muito a acertar e a errar, pois são irremediavelmente humanas."

Segundo o jornalista Pedro Lima, foi muito interessante acompanhar a trama "Quero dizer o quão interessante foi acompanhar toda a trajetória inversa do protagonista sendo corrompido por sua ambição e pelo sistema. A novela, que despede do horário das nove da #TVGlobo, tem um texto, direção, fotografia, trilha sonora impecáveis. Uma pena ter sido tão subestimada pelo grande público."

Lícia Manzo usa muito bem a seu favor – é a capacidade de emocionar o público. Foram inúmeros personagens, cenas e diálogos que não só emocionaram, como também fizeram refletir, que esclareceram ou ajudaram a compreender, que divulgaram ou alertaram sobre temas importantes.

A sequência do antepenúltimo capítulo em que Rebeca dá uma entrevista discursando sobre o preconceito com pessoas mais velhas (etarismo) é uma das melhores já mostradas na televisão.

A maior qualidade da autora – já vista em seus trabalhos anteriores – esteve presente durante toda a novela: a representação da pluralidade do ser humano. "Um Lugar ao Sol" trouxe os dilemas éticos e morais que todos enfrentam, às vezes sem perceber, nos quais todos se refletem e se reconhecem.

Também a complexidade das relações, dos interesses e dos desejos versus as demandas sociais; a capacidade de despertar a empatia, de desenvolver o olhar sobre o outro; e a disposição em aderir às concessões que a vida impõe, vistos em personagens como Christian, Renato, Lara, Ravi, Bárbara, Rebeca, Noca, Nicole, Elenice, Joy, Ilana, Breno, Júlia, Cecília, Stephany e outros.

E aplausos pra todo elenco, com muito destaque pra Juan Paiva. 





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