Chegou ao fim "Um Lugar ao Sol"
Ontem (25), sexta-feira, foi ao ar, o último capítulo de "Um Lugar ao Sol", folhetim de estreia de Lícia Manzo no horário nobre. E lamentavelmente a trama ficará marcada com um verdadeiro fracasso, a obra amarga um título nada agradável: a pior audiência da história na faixa – média de 22 pontos no Ibope da Grande São Paulo. E não merece isso de jeito algum, apesar dos problemas ocorridos no meio dessa trajetória.
São inegáveis as qualidades da novela, da direção ao elenco bem escalado. Principalmente o texto da autora, reconhecido como um dos melhores de nossa TV, com diálogos ricos que levam à reflexão, tramas repletas de dilemas humanos, personagens de várias camadas e discussões de interesse da sociedade.
Coloco "Um Lugar ao Sol" como a novela certa, porém no momento errado, pois estamos de uma ressaca do período de pandemia. Na minha concepção isso não deveria ser um fator para a trama flopar, mas o público que muitas vezes é chato, reclamou de sua trama densa, com personagens sofredores e convites à reflexão não correspondia à expectativa do telespectador. Alguns aderiram, porém infelizmente a maioria ainda queria a fantasia exacerbada em vez da realidade pouco atraente nesses tempos difíceis.
Nesta comparação para muitos Lícia se perde, mesmo com um texto lindo, profundo, muitos dizem que a autora carrega um certo pedantismo, colocando na boca de personagens elitizados expressões que não são usuais ou desconhecidas do grande público. Prece que para o povão soa pernóstico e cria uma má vontade da audiência com o folhetim.
Ouvir algumas pessoas nas ruas, dizendo que a autora não está falando apenas a uma elite, mas ao povão. É meio que para essas pessoas uma regra do folhetim, falar com o povão, todavia qualidade de texto Lícia tem de sombra.
Todavia não só vi críticas a "Um Lugar ao Sol", segundo dramaturgo e diretor teatral, Lucas Martins Néia, ele afirma sobre o último capitulo "Fiquei com a mesma sensação que tive ao ver o fim de #AVidaDaGente (2011) e #SeteVidas (2015) - não é que a história termina na última cena: nós é que deixamos de acompanhar a vida das personagens naquele momento. Elas ainda têm muito a acertar e a errar, pois são irremediavelmente humanas."
Segundo o jornalista Pedro Lima, foi muito interessante acompanhar a trama "Quero dizer o quão interessante foi acompanhar toda a trajetória inversa do protagonista sendo corrompido por sua ambição e pelo sistema. A novela, que despede do horário das nove da #TVGlobo, tem um texto, direção, fotografia, trilha sonora impecáveis. Uma pena ter sido tão subestimada pelo grande público."
Lícia Manzo usa muito bem a seu favor – é a capacidade de emocionar o público. Foram inúmeros personagens, cenas e diálogos que não só emocionaram, como também fizeram refletir, que esclareceram ou ajudaram a compreender, que divulgaram ou alertaram sobre temas importantes.
A sequência do antepenúltimo capítulo em que Rebeca dá uma entrevista discursando sobre o preconceito com pessoas mais velhas (etarismo) é uma das melhores já mostradas na televisão.
A maior qualidade da autora – já vista em seus trabalhos anteriores – esteve presente durante toda a novela: a representação da pluralidade do ser humano. "Um Lugar ao Sol" trouxe os dilemas éticos e morais que todos enfrentam, às vezes sem perceber, nos quais todos se refletem e se reconhecem.
Também a complexidade das relações, dos interesses e dos desejos versus as demandas sociais; a capacidade de despertar a empatia, de desenvolver o olhar sobre o outro; e a disposição em aderir às concessões que a vida impõe, vistos em personagens como Christian, Renato, Lara, Ravi, Bárbara, Rebeca, Noca, Nicole, Elenice, Joy, Ilana, Breno, Júlia, Cecília, Stephany e outros.
E aplausos pra todo elenco, com muito destaque pra Juan Paiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário