domingo, 31 de março de 2019

Ditadura nunca mais

Vamos refletir

Texto de: José Francisco de Moura

Hoje é aniversário do golpe militar de 1964

Hoje ocorre mais um aniversário do malfadado golpe civil-militar de 1964. Sempre é bom lembrar esta data e o que ela representou para o país para que fatos tão vergonhosos para a nossa história jamais se repitam.

Para quem não sabe, o golpe de 1964 foi organizado e efetuado por setores conservadores da elite brasileira, apoiados pelos EUA, tendo os militares à frente.

O golpe tinha por objetivo imediato impedir que as chamadas "Reformas de "Base" do então presidente João Goulart fossem efetivadas. As reformas pretendidas pelo presidente deposto giravam em torno de uma reforma agrária efetiva, que retirasse terras improdutivas das mãos do latifúndio e as redistribuísse com os camponeses. Também se pautavam pelo controle das remessas exageradas de lucros de empresas estrangeiras para o exterior e pela estatização de setores estratégicos da economia.

O golpe impediu as reformas e a ditadura eternizou-se no poder para garantir os privilégios da elite econômica. Para isso, durante os próximos 20 anos que se seguiram, os militares, com o apoio dos EUA e de setores do empresariado e de parte da imprensa, fizeram de tudo: demitiram, censuraram, mataram, seqüestraram, torturaram, patrocinaram atentados terroristas contra embaixadas de países socialistas, contra teatros, contra sindicatos e contra bancas que vendiam jornais de oposição. O atentado ao Rio-Centro em 1981 foi o último de seus atos de loucura.

Muitos jovens não tem noção do que foi aquele período sombrio. Uma simples batida em um carro de um militar podia leva-lo para dias de pau de arara. O jornalista Roberto Gatto foi torturado apenas por ter problemas pessoais com um general. Cabos e sargentos passavam na nossa frente em filas de banco alegando serem militares e pobre de vc se criasse caso.

Afora isso, os militares, supostamente nacionalistas, endividaram o país com empréstimos para a construção de obras faraônicas (Ponte Rio-Niterói, Transamazônica, etc..), obras essas que fizeram a alegria das grandes empreiteiras. Quando Jango foi deposto, o país devia seis bilhões de dólares. Quando Sarney saiu do governo, encerrando o período autoritário, o país devia 250 bilhões aos bancos estrangeiros.

Foi no período da ditadura que os grupos de extermínio de bandidos pobres surgiram. Segundo alguns estudos, mais de 3 mil pobres e negros foram sumariamente executados, sem que ninguém tenha sido punido. Para Michel Misse, isso fez com que os bandidos se organizassem em facções, as mesmas que hoje aterrorizam as comunidades pobres.

Foi na época da ditadura que os grande bicheiros multiplicaram seu poder e influência, dentre eles um Capitão torturador que havia passado pelos porões do DOI: Capitão Guimarães.

Foi neste período sombrio que a Globo e a Editora Abril, com apoio dos EUA e dos militares, montaram seus impérios de alienação, e que os grandes grupos econômicos da imprensa se formaram, formatando o atual quadro direitista de nossa mídia.

E foi ainda neste período de trevas que disciplinas como Filosofia, Sociologia, História e Geografia tiveram seus currículos alterados para a criação das malfadadas disciplinas de Estudos Sociais e Moral e Cívica, com objetivo de diminuir o nível de consciência crítica dos estudantes, escondendo a história do país e as contradições de nossa sociedade.

Muitos dizem hoje que o país naquela época não tolerava atos de corrupção. Esta é uma mentira faraônica. Sucederam-se vários escândalos, como os casos da Coroa-Brastel, da Capemi, da Delfim, do Contrabando de Pedras Preciosas, dos 10 % da ponte Rio-Niterói, e dos desvios de milhões da construção da Transamazônica. Nenhum desses escândalos foi apurado e ninguém passou uma única noite na cadeia.

E mais: uma gama de políticos para lá de "honestos" foi cria da ditadura, como Paulo Maluf, Antônio Carlos Magalhães, José Sarney, Fernando Collor e Jáder Barbalho, para citar só os mais conhecidos. Por fim, criaram mil e uma estatais, muitas delas só para dar cargos de chefia a coronéis e generais sem concurso, apenas para que ganhassem uns tostões a mais do dinheiro público.

Outros dizem que a repressão foi apenas resposta aos atos de vandalismo dos estudantes e aos atos terroristas de guerrilheiros urbanos e rurais (Araguaia). Trata-se de outra mentira. As manifestações estudantis foram bem posteriores ao golpe (começaram no final de 1967) e foram duramente reprimidas, com prisões e assassinatos, o que acabou empurrando muitos estudantes para a resistência armada. O resultado do confronto tem números marcantes: 600 mortos e desaparecidos, cerca de 6 mil presos e torturados, e outros 20 mil exilados. Nenhum milico envolvido com isso foi preso até hoje.

Por fim, algumas pessoas enfatizam que a Anistia perdoou todo mundo e que não se deve mexer em velhas feridas. Outra mentira. A Anistia foi feita para isentar os torturadores de seus crimes hediondos, já que os que foram presos, torturados, exilados ou os que perderam seus empregos foram punidos pelo terror do Estado.

Por tudo isso, o dia 31 de março deveria ser um dia de luto e de vergonha nacional.

Ditadura nunca mais !

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