Ontem (01), chegou ao fim "Espelho da Vida", mais uma trama das seis da Globo, e como todos nós sabemos qualidade e audiência muitas vezes não caminham juntas; pois a trama de Elizabeth Jhin foi excelente, porém, sua audiência foi um fiasco - para muitos a pior audiência do horário; a atração amarga o título de menor audiência no horário desde 2015 (quando foi exibida "Boogie Oogie"): média final de 17,5 pontos no Ibope da Grande São Paulo, abaixo do esperado para a faixa, 20 pontos.
O Ibope não atesta qualidade, a produção reunia imensas qualidades, quem não viu ou largou no meio, perdeu uma super obra. Alguns motivos afugentaram o público da TV aberta, como a passagem do ano como vilão para justificar audiências abaixo da média. De fato, devem ser levados em consideração o horário de verão (ainda mais em se tratando de uma novela que passa às seis da tarde, com sol a pino lá fora), as festas de fim de ano e, depois, o carnaval. Só que em contra partida, há um ano, a excelente "Tempo de Amar" atravessou o mesmo período e fez bonito no Ibope; como já disse diversas vezes, "Espelho da Vida", começou muito morna e muitas vezes o núcleo do cinema estava tendo destaque, o que não era necessário, a trama era bem lenta e só quando agilidade, quando Jhin priorizou mais a história do passado, algo que só foi acontecer em janeiro - ai não teve como recuperar a audiência perdida.
O que faltou em "Espelho da Vida", foi agilidade nos primeiros três meses - mesmo que a novela tivesse uma narrativa que necessitava de tempo para assimilação - como a mistura do passado com o presente, vários atores vivendo mais de um papel em épocas distinas. O folhetim como já falei ganhou um folego imenso quando a história da década de 30 - ocupou mais tempo na narrativa, o que foi um ganho para todos nós - não que a história do presente fosse fraca, mas o passado parecia mais interessante para todos nós.
Uma coisa que também incomocou o público, como diria Nilson Xavier, crítico, jornalista, escritor - autor do site Teledramaturgia.
-Em seu início, o público foi ludibriado com um mocinho que não era mocinho: Alain (João Vicente de Castro). Mal-humorado, egoísta e até grosseiro, Alain custou a cair nas graças da audiência. Ele não era exatamente "o vilão", tampouco um "anti-herói", mas simplesmente um tipo intragável, que afugenta as pessoas, inclusive o público. Alain só começou a perder ares de vilão quando descobriu a filha, Priscila (Clara Galinari).
Mesmo com esses problemas do início, digo que tivemos um novelão e o que saldo foi positivo, repito o que disse aqui, há alguns dias "Espelho da Vida", era a melhor novela no ar, no momento, e citei 4 motivos:
O elenco é ótimo, bem apoiado na direção (Pedro Vasconcelos e equipe) e no texto primoroso de Elizabeth Jhin, com grandes atuações de Vitória Strada, Alinne Moraes, Irene Ravache, Felipe Camargo, Júlia Lemmertz, Suzana Faini, Patrícya Travassos, Ana Lúcia Torre, Emiliano Queiroz e outros. E o melhor de tudo é que todos do elenco tem a chance de brilhar em algum momento da trama.
Jhin nos traz ingredientes folhetinescos, muito bem trabalhados na trama, que fisgou o público com com mocinhos sofredores, vilões terríveis, amor impossibilitado pelos vilões, segredos, mistérios e paternidades desconhecidas. Elizabeth Jhin como de costume, nos traz personagens memoráveis, e um deles é o vilão de Felipe Camargo – Coronel Eugênio Castelo – o ator é tão convincente que o seu olhar de psicopata justifica as ações do personagem, é um dos melhores momentos de Felipe na TV, sem dúvida alguma. O "quem matou?", apresentado desde o início, é um dos melhores da história das telenovelas.
A produção é de primeira, iluminação envolvente, arte, figurinos e cenários caprichados. Não existe confusão quando uma cena sai do presente, vai para o passado e depois retorna, pois a produção conseguiu alinhar isto perfeitamente. A trilha sonora é de muito bom gosto. É uma novela linda esteticamente e agradável de assistir.
Sua narrativa em duas épocas concomitantes é um diferencial e tanto. Não é inovadora ou inédita no universo das novelas ("O Casarão", no longínquo ano de 1976, já o fizera). Porém, é uma abordagem pouco visitada em teledramaturgia, o que lhe confere o sabor da novidade – a maioria da audiência de "Espelho da Vida" sequer assistiu "O Casarão". E mexe com a fantasia do telespectador, acreditando ele ou não em reencarnação ou universos e dimensões paralelas. É um escape sedutor.
Chegamos ao fim com um saldo positivo - e mesmo com a fraca audiência, tivemos uma legião de fãs nas redes sociais, que ficaram órfãos do folhetim.
Elizabeth Jhin mais uma vez nos brindou com um novelão, obrigado Jhin.
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