terça-feira, 2 de abril de 2019

Que belo final

Chega ao fim uma excelente novela, todavia, com péssima audiência

Ontem (01), chegou ao fim "Espelho da Vida", mais uma trama das seis da Globo, e como todos nós sabemos qualidade e audiência muitas vezes não caminham juntas; pois a trama de Elizabeth Jhin foi excelente, porém, sua audiência foi um fiasco - para muitos a pior audiência do horário; a atração amarga o título de menor audiência no horário desde 2015 (quando foi exibida "Boogie Oogie"): média final de 17,5 pontos no Ibope da Grande São Paulo, abaixo do esperado para a faixa, 20 pontos.

O Ibope não atesta qualidade, a produção reunia imensas qualidades, quem não viu ou largou no meio, perdeu uma super obra. Alguns motivos afugentaram o público da TV aberta, como a passagem do ano como vilão para justificar audiências abaixo da média. De fato, devem ser levados em consideração o horário de verão (ainda mais em se tratando de uma novela que passa às seis da tarde, com sol a pino lá fora), as festas de fim de ano e, depois, o carnaval. Só que em contra partida, há um ano, a excelente "Tempo de Amar" atravessou o mesmo período e fez bonito no Ibope;  como já disse diversas vezes, "Espelho da Vida", começou muito morna e muitas vezes o núcleo do cinema estava tendo destaque, o que não era necessário, a trama era bem lenta e só quando agilidade, quando Jhin priorizou mais a história do passado, algo que só foi acontecer em janeiro - ai não teve como recuperar a audiência perdida.

O que faltou em "Espelho da Vida", foi agilidade nos primeiros três meses - mesmo que a novela tivesse uma narrativa que necessitava de tempo para assimilação - como a mistura do passado com o presente, vários atores vivendo mais de um papel em épocas distinas. O folhetim como já falei ganhou um folego imenso quando a história da década de 30 - ocupou mais tempo na narrativa, o que foi um ganho para todos nós - não que a história do presente fosse fraca, mas o passado parecia mais interessante para todos nós.

Uma coisa que também incomocou o público, como diria Nilson Xavier, crítico, jornalista, escritor - autor do site Teledramaturgia.
-Em seu início, o público foi ludibriado com um mocinho que não era mocinho: Alain (João Vicente de Castro). Mal-humorado, egoísta e até grosseiro, Alain custou a cair nas graças da audiência. Ele não era exatamente "o vilão", tampouco um "anti-herói", mas simplesmente um tipo intragável, que afugenta as pessoas, inclusive o público. Alain só começou a perder ares de vilão quando descobriu a filha, Priscila (Clara Galinari).

Mesmo com esses problemas do início, digo que tivemos um novelão e o que saldo foi positivo, repito o que disse aqui, há alguns dias "Espelho da Vida", era a melhor novela no ar, no momento, e citei 4 motivos:

O elenco é ótimo, bem apoiado na direção (Pedro Vasconcelos e equipe) e no texto primoroso de Elizabeth Jhin, com grandes atuações de Vitória Strada, Alinne Moraes, Irene Ravache, Felipe Camargo, Júlia Lemmertz, Suzana Faini, Patrícya Travassos, Ana Lúcia Torre, Emiliano Queiroz e outros. E o melhor de tudo é que todos do elenco tem a chance de brilhar em algum momento da trama.

Jhin nos traz ingredientes folhetinescos, muito bem trabalhados na trama, que fisgou o público com com mocinhos sofredores, vilões terríveis, amor impossibilitado pelos vilões, segredos, mistérios e paternidades desconhecidas. Elizabeth Jhin como de costume, nos traz personagens memoráveis, e um deles é o vilão de Felipe Camargo – Coronel Eugênio Castelo – o ator é tão convincente que o seu olhar de psicopata justifica as ações do personagem, é um dos melhores momentos de Felipe na TV, sem dúvida alguma. O "quem matou?", apresentado desde o início, é um dos melhores da história das telenovelas.

A produção é de primeira, iluminação envolvente, arte, figurinos e cenários caprichados. Não existe confusão quando uma cena sai do presente, vai para o passado e depois retorna, pois a produção conseguiu alinhar isto perfeitamente. A trilha sonora é de muito bom gosto. É uma novela linda esteticamente e agradável de assistir.

Sua narrativa em duas épocas concomitantes é um diferencial e tanto. Não é inovadora ou inédita no universo das novelas ("O Casarão", no longínquo ano de 1976, já o fizera). Porém, é uma abordagem pouco visitada em teledramaturgia, o que lhe confere o sabor da novidade – a maioria da audiência de "Espelho da Vida" sequer assistiu "O Casarão". E mexe com a fantasia do telespectador, acreditando ele ou não em reencarnação ou universos e dimensões paralelas. É um escape sedutor.

Chegamos ao fim com um saldo positivo - e mesmo com a fraca audiência, tivemos uma legião de fãs nas redes sociais, que ficaram órfãos do folhetim. 

Elizabeth Jhin mais uma vez nos brindou com um novelão, obrigado Jhin. 




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