Como sempre gosto de falar sobre curiosidades dos nossos folhetins, trago a vocês curiosidades sobre "Paraíso Tropical", um verdadeiro novelão, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com direção geral de Denis Carvalho e José Luiz Villamarim, exibida originalmente entre março e setembro de 2007;
Uma novela imensamente bem escrita, dirigida, produzida e sem atropelos ou barriga.
1 – Rejeição inicial
O início da novela sofreu com audiência aquém da esperada, mas Paraíso Tropical aos poucos foi conquistando o público. A rejeição inicial se deu por causa do tom da novela, considerado “muito masculino” por Ricardo Linhares.
Não havia grandes personagens femininas além da gêmea má Taís (Alessandra Negrini) e de Bebel (Camila Pitanga), e o grande centro era a disputa de poder entre o mocinho Daniel (Fábio Assunção) e o vilão Olavo (Wagner Moura) na empresa de Antenor Cavalcanti (Tony Ramos).
Os autores fizeram algumas alterações no sentido de atenuar essa “masculinidade” da novela e valorizaram as mulheres sem, no entanto, deixarem de lado o planejado na sinopse. Com isso, os problemas foram sanados.
2 – Olavo e Bebel
Enquanto o casal romântico central, Paula e Daniel (Alessandra Negrini e Fábio Assunção), não vingou, a dupla de anti-heróis Olavo e Bebel (Wagner Moura e Camila Pitanga) fez o maior sucesso. Um casal que caiu nas graças do público, apesar de todas as trapaças e atitudes nada corretas.
Olavo era uma vilão cafajeste, megalomaníaco e sedutor, e Bebel, uma prostituta ingênua e adorável, com bordões e expressões que o povo repetiu nas ruas, como “catiguria”, “cueca manera” e a frase “Que boa ideia esse casamento primaveril em pleno outono!”.
3 – Novela premiada
Por suas atuações, Wagner Moura e Camila Pitanga foram eleitos pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) o melhor ator e a melhor atriz na televisão em 2007. Ela empatou com Jussara Freire (pela novela Vidas Opostas, da Record TV), e ele empatou com Marcelo Serrado (por Vidas Opostas e pela série Mandrake, da HBO).
A APCA também elegeu Paraíso Tropical a melhor novela de 2007. Paraíso Tropical foi ainda premiada com o Troféu Imprensa: melhor novela (empatada com Vidas Opostas), melhor ator (Wagner Moura), melhor atriz (Camila Pitanga) e revelação de 2007 na TV (o ator Gustavo Leão).
4 – Outro Olavo
Para o papel do vilão Olavo, Gilberto Braga convidou Selton Mello, que não aceitou. O autor declarou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”: “Nunca cantei tanto um ator para fazer um trabalho meu quanto cantei o Selton. Mas ele não queria fazer novela, queria fazer cinema. (…) Achei bonito e carinhoso da parte do Selton ele dizer que não deveria ter recusado o Olavo, apesar de ter precisado fazer isso: ‘Tenho pena de ter recusado, porque vilão de Gilberto Braga, um ator não deve recusar’”.
Sobre a escalação de Wagner Moura: “Quando o Dennis [Carvalho] sugeriu o Wagner para o papel do Olavo, eu não gostei: ‘Ele não tem peitoral, não pode aparecer sem camisa (…) ele tem um físico dos anos 1970, não tem tórax.’ (…) Para mim, o Wagner era franzino. Dennis insistiu: ‘Gilberto, ele é um ator excepcional. Além disso, é o tipo de pessoa da qual você gosta. Você vai gostar dele, de cara.’ (…) Não deu outra”.
5 – Outra Bebel
6 – Outras gêmeas
Gilberto criou a trama central de Paraíso Tropical pensando em Cláudia Abreu para viver as gêmeas protagonistas. Porém, a atriz engravidou quando as gravações estavam prestes a começar.
Ao livro “Autores”, declarou: “Como eu tinha combinado de não fazer essa novela com a Malu [Mader], achei melhor a Cacau fazer as duas [a mocinha e a vilã]. Eu nunca tinha escrito gêmeas e achei que ela faria muito bem. (…) Eu queria basicamente a Vitória – heroína de Belíssima, do Silvio de Abreu, que sabe escrever heroínas muito bem – e a Laura de Celebridade. A ideia era simplesmente botar a Vitória contra a Laura. Foi um choque não poder contar com a Cláudia Abreu”.
7 – Gêmea reprovada pelo autor
Sobre a escalação de Alessandra Negrini, Gilberto Braga disse ao livro “Autores”: “Foi uma confusão danada até escalarmos a Alessandra Negrini. Ricardo Linhares havia trabalhado com a Alessandra numa novela [Meu Bem-Querer] e sugeriu o nome dela. […] É uma atriz extremamente competente, mas não é a minha praia, porque não é uma atriz naturalista. Mas fez muito bem as gêmeas”.
Já para o livro “A Seguir Cenas do Próximo Capítulo”, Gilberto confidenciou: “A Alessandra Negrini é competente, mas não tem o carisma da Cacau [Cláudia Abreu]”.
De fato, Alessandra Negrini funcionou mais como a vilã Taís do que como a mocinha romântica Paula, demonstrando pouca química com o mocinho Daniel (Fábio Assunção).
8 – Gays apáticos e assexuais
Os autores foram criticados por apresentar um casal gay que não demonstrava em cena nenhuma relação afetuosa ou de intimidade. Rodrigo e Tiago – vividos por Carlos Casagrande e Sérgio Abreu – foram taxados de assexuais pelo público e mídia.
Gilberto Braga se defendeu: “O casal gay não tinha importância alguma na trama. Era para acariciar a classe [os gays]. Mas a classe é muito crítica, quer carinho, beijo na boca” (livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”).
De qualquer forma, o autor se redimiu em sua novela seguinte, Insensato Coração (2011), na qual abordou amplamente a questão homossexual.
9 – Crossover diferente
10 – Comparações com Mulheres de Areia
Tramas em que irmãos gêmeos ocupam o posto de protagonistas já foram realizadas algumas vezes na Globo. A novela Mulheres de Areia (1993), de Ivani Ribeiro, é a que mais se assemelha à trama central de Paraíso Tropical, por retratar a história de duas irmãs, sendo uma boa e a outra má.
Contudo, entre os detalhes que diferem as novelas está o fato das gêmeas de Mulheres de Areia saberem da existência uma da outra, diferente do que acontecia no início da trama de Paraíso Tropical, quando as gêmeas Paula e Taís (Alessandra Negrini) não se conheciam.
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