GILBERTO BRAGA POR PAULO CURSINO
Gilberto Braga era um dos últimos titãs sobre a terra. Se Janete Clair mudou o padrão da telenovela brasileira, Gilberto foi um dos maiores a consolidá-lo. Apesar de dominar o gênero, para ele nunca foi fácil escrever, e o vídeo abaixo é apenas um dos seus vários depoimentos que confirmam esta dificuldade. Gilberto se esmerava e trabalhava muito para manter a qualidade do que fazia. Atribuem seu sucesso à ousadia, mas, como dizemos no meio, só se arrisca quem sabe dobrar seu próprio paraquedas. Era mais meticuloso do que ousado. Preocupava-se com apelo sim, mas sem vender a alma ou abrir mão da qualidade. Até mesmo em suas novelas consideradas menores, como "Corpo a Corpo", uma das minhas preferidas, você enxergava horas de trabalho ali, de um escritor que sempre sabia para onde ia a história. Em uma novela, acreditem, isto é raro e faz toda diferença. Além do domínio, sua postura como criador era exemplar. Independente da opinião do público e do espectador, Gilberto sempre acreditava mais em seu trabalho, em sua criação, e bancava suas ideias, cedia apenas em último caso, lutava até o último minuto. Era um autor em essência e na melhor acepção do termo. Daí advinha sua elegância e generosidade. Lembro de cabeça um momento em que Gilberto certa vez foi convidado para dar uma pequena palestra, um depoimento, em um workshop de autores na Globo. Na época ele estava no ar com "Pátria Minha", uma de suas novelas mais problemáticas, era um caos na produção e com público reticente. Assim que Gilberto foi apresentado, alguém mencionou a novela que patinava no ar e ele brincou, mas em tom bastante sério: "finalmente descobriram que sou uma fraude". Aquilo foi engraçado. Ouvir o próprio autor de "Escrava Isaura", "Dancin'Days", "Vale Tudo" e "Anos Dourados", entre dezenas de outras obras de sucesso, dizer algo assim, colocava as coisas nos devidos lugares. Gênios de verdade quase nunca se enxergam como um porque veem o que ninguém mais vê e compreendem a fundo o que jamais entenderemos na superfície. Não tenho dúvidas que de foi a maior lição daquele dia. Outro que foi cedo demais. Já está fazendo falta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário