O Fracasso dos Galácticos – Ou não será bem assim?
No futebol, vários são os casos de equipas que apesar do enorme estrelato dos seus jogadores, não alcançaram o êxito esperado. Melhor exemplo do que o Real Madrid dos Galácticos? Difícil.
Vamos por isso dissecar este período dos merengues, a partir do ano 2000, ano esse de tomada de posse de Florentino Pérez como presidente daquele que, para muitos, é o melhor clube do mundo.
O clube vinha da conquista de 2 Ligas dos Campeões (1998 e 2000), sendo a última já com Vicente del Bosque como técnico, e o elenco já era recheado de grandes craques, como Casillas, Hierro, Roberto Carlos, Seedorf, Redondo, Raúl e Morientes.
No entanto, era preciso mais, nomeadamente alcançar uma hegemonia por terras castelhanas que há muito escapava aos merengues.
Como promessa de campanha, Pérez traz consigo o capitão do Barcelona, e melhor jogador do mundo nesse ano, Luís Figo.
O Real Madrid vence a La Liga nesse ano, e chegados a 2001, vem de Turim, por 78 Milhões de euros, o mago Zidane.
Internamente, o campeonato escapa, mas, com o toque especial de Zizou, os merengues conquistam uma nova Liga dos Campeões.
Em 2002/03, para fazer parceria com Raúl na frente, um novo Bola de Ouro chega a Madrid, diretamente da vitória no campeonato do mundo desse ano: Ronaldo, o Fenómeno.
Del Bosque, logicamente, só poderia sorrir com um plantel recheado de tanta qualidade individual, mas, mesmo assim, foi necessária arte e engenho para construir um grupo coeso e forte, fruto dos enormes egos desse balneário, e torná-lo capaz de lutar por novos títulos.
A La Liga é novamente conquistada, e a equipa apenas é ultrapassada nas meias finais da Liga dos Campeões, pela Juventus de Lippi, Nedved e Del Piero.
Podemos então dizer que, até esse momento, o Real Madrid conseguia conciliar as suas estrelas, vencendo títulos, e com a sua marca a crescer exponencialmente, fruto do merchandising e marketing que atingia valores recorde à data.
Até que, chegados à época 2003/04, começamos a ver este ciclo vitorioso a inverter-se aos poucos…
Vamos por passos:
- Inversão repentina da política de gestão do plantel (com o objetivo de alcançar um “utópico” défice zero);
- Dispensa de Vicente del Bosque, mesmo sendo até hoje um dos treinadores de maior sucesso da história dos merengues, tendo vencido praticamente tudo, e tendo conseguido unir um plantel recheado de craques. Nas palavras de Pérez à altura, Del Bosque não era a pessoa certa para o projeto nos anos seguintes. O seu substituto foi Carlos Queiroz, até à data, adjunto de Ferguson;
- “Intromissão” de Florentino Pérez na gestão do plantel, de forma a alcançar o referido no ponto 1. Como tal, sem estar em sintonia com Queiroz, dispensa dois jogadores fundamentais, Makelelé e Morientes, e compra a superestrela David Beckham;
- O Presidente idealizou ainda uma política de conciliação entre galácticos e jogadores da formação, como Pavón ou Portillo (que não cumpriam o nível exigido nem, inevitavelmente, acompanhavam a qualidade dos restantes colegas de equipa).
Era, no fundo, uma equipa a duas velocidades.
Do meio campo para trás, o plantel era preenchido quase na íntegra por jogadores da formação, e, do meio campo para a frente, havia Zidane, Beckham, Figo, Guti, Raúl e Ronaldo.
Um dos maiores desafios para o português foi sem dúvida conciliar, em campo, todos os craques, em especial David Beckham e Figo, visto que ambos ocupavam alguns dos mesmos espaços.
Não correu bem, tendo o clube terminado em 4º no campeonato e, na Liga dos Campeões, a ser eliminado precocemente, nos oitavos, pelo Mónaco de… Morientes.
No ano seguinte, nova mudança técnica, desta vez Vanderlei Luxemburgo, treinador brasileiro que consegue um vice-campeonato atrás do Barcelona de Ronaldinho, mas que, ao mesmo tempo, se notava a falta de entrosamento do brasileiro com a realidade europeia, tendo ocorrido vários conflitos no balneário (na Liga dos Campeões, eliminação nos oitavos frente à Juventus de Capello e Del Piero).
Roberto Carlos, anos mais tarde, confessou que os “Galácticos” não obedeciam a “Luxa”.
Mesmo assim, manteve-se mais um ano.
E as polémicas continuaram, em especial com a dispensa conturbada de Figo.
Nessa época, juntam-se ao plantel Robinho e Júlio Baptista, mas, o resultado foi o mesmo: novo vice-campeonato atrás do Barcelona (12 pontos de distância!) e eliminação novamente nos oitavos, agora frente ao finalista vencido desse ano, o Arsenal.
A época 2005/06 terminou, e com ela vimos também o encerrar do ciclo de Florentino Pérez, o seu primeiro enquanto presidente dos merengues.
Ramón Calderón, seu sucessor, curiosamente, consegue vencer 2 campeonatos, o primeiro com Fabio Capello como seu treinador, e o segundo com Bernd Schuster no comando técnico.
Ainda assim, é um facto que, durante o período de Pérez na presidência, o Real Madrid conseguiu subir “uns degraus” na sua dimensão enquanto clube, no valor da sua marca, na sua projeção, em especial em mercados como o asiático, e conseguiu que alguns dos melhores jogadores da história pudessem estar todos juntos na mesma equipa.
Mas também é um facto que, as questões extracampo, os interesses comerciais em detrimento de um melhor desempenho desportivo, as interferências do presidente na gestão técnica, bem como a falta de um melhor planejamento, a médio prazo, do projeto dos “Galácticos”, foram algumas das causas para o pouco sucesso deste elenco de estrelas.
Mas, não nos podemos esquecer de alguns jogos memoráveis que o Real Madrid desses anos nos presenteou.
Ver todas estas estrelas jogarem juntas permitia aos adeptos deliciarem-se com um futebol que, em alguns momentos, parecia irreal, tal a qualidade dos seus executantes, como Figo, Zidane, Beckham ou Ronaldo.
No entanto, faltaram os títulos….
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