HISTÓRIAS TRISTES DE MIRACEMA...
POR JOSÉ MARIA DE AQUINO
Ao lado da grande cruz, no Morro do Cruzeiro, junto ao campo de aviação, na santa terrinha, deve ter uma cruz menor, negra como a grande, que abençoa nossa Miracema.
Se não tem, devia ter, representando a vida de um inocente que ali tombou há 80 anos. Pagando por crimes que talvez não tenha cometido e por penas para as quais não havia sido condenado. Nem pela justiça dos homens nem de Deus.
Na pequena cruz nunca foi inscrito um nome, nem seria agora. Porque mais que uma vida roubada ela representava - ainda representa? - uma barbaridade cometida, talvez de forma não pensada, mas cometida.
Alguém, sem maldade, sonhou que no topo daquele morro poderia ser construído um campo de aviação, representando progresso para a cidade. E levou seu sonho às autoridades, que gostaram e aprovaram um projeto.
Nada mais normal, se - o que ocorreria nos tempos de hoje - o topo do morro fosse arrancado por máquinas, e não por braços humanos, empunhando pás e picaretas.
Homens sem condenações - muito menos para castigo tão grande - arrebanhados em quase todo Estado por um tenente chamado Coracy, que os amontoou nas pequenas celas de uma cadeia improvisada numa travessinha da rua das Flores.
Eram 30, talvez 40, sem nome, sem identidade, que vestiam calção azul e camiseta regata vermelha. Peças únicas. Por uns 30 dias trabalharam de sol a sol, até que um tombou...
O espetáculo era pavoroso. Homens quase nus. As reclamações com a autoridades em nada resultavam. Os sinos da Igreja tocavam para que as famílias fechassem suas portas e janelas.
Os gritos da população marcados pelos sinos só foram ouvidos na corte, quando o corpo tombou. Só então, os "chamados" para transformar um sonho em triste realidade, puderam dizer seus nomes, e muitos provarem ser inocentes. Profissionais, pais de família...
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