HISTÓRIAS TRISTES DE MIRACEMA (CONTINUAÇÃO)...
POR JOSÉ MARIA DE AQUINO
O cidadão Francisco sonhou que se poderia fazer um campo de aviação na cidade, tirando o topo do morro do cruzeiro. Contou seu sonho e pessoas importantes na política acharam viável. Era preciso arranjar mão de obra, o que fez o Coronel Coracy, saindo de Niterói e chegando à cidade com um grupo de homens presos.
Por mais de um mês o grupo deixava a cadeia cedinho, levando nas costas pás e picaretas, subia o morro e trabalhava até o início da noite. Vestiam calção azul e camiseta vermelha, que com o tempo, graças ao suor e a qualidade do tecido, logo foram rasgando. Alguns estavam praticamente nus. Quando saiam da cadeia e começavam a descer o morro, o sino da Igreja era tocado, ordem de um padre chamado Nicodemos. As famílias fechavam as janelas.
A grande obra foi sendo cavada até um dos presos falecer - disseram que de fome e sede. O fato chegou a Niterói, o padre foi ouvido - e não demorou muito a ser transferido. Só então foram saber quem eram os presos, e entre eles estavam pais de família que nada deviam à justiça.
Olhos e ouvidos infantis gravam cenas que jamais desaparecem. Nenhum tempo apaga as lembranças das senhoras e moças fechando as janelas para não verem homens quase nus, alguns nus. Muitas rezavam quando os sinos eram tocados. Mas crianças como eu sempre encontrava uma fresta por onde olhar. Tente imaginar, e saiba que foi mais...
MIRACEMA EM 1957.
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