quinta-feira, 13 de julho de 2023

Histórias de Miracema

 HISTÓRIAS DE MIRACEMA...


APÓS MUITA PROCURA CONSEGUI COMPRAR ESSA EDIÇÃO DA REVISTA ESPORTE ILUSTRADO, DE 1943, COM UMA REPORTAGEM SOBRE OS ESPORTES EM MIRACEMA, QUE TRANSCREVO NA ÍNTEGRA. 


Tenho a impressão que o senhor José Naegele – depois de ler a matéria publicada em agosto (edição nº 280, também sobre Miracema) – resolveu escrever para a revista contando um pouco sobre a história do esporte em Miracema até o ano de 1943. 


ESPLENDOR E DECADÊNCIA DOS ESPORTES EM MIRACEMA


Matéria da revista Esporte Ilustrado nº 285, de 23 de setembro/1943.


José Naegele escreveu para Esporte Ilustrado:


- Onde vão vocês jogar? 

- Em Miracema. 

- Então digam-nos, na volta, por quanto apanharam...

Eram assim os comentários que se faziam nas estações da Leopoldina sempre que vinha a Miracema uma representação futebolística de Niterói, Campos, Friburgo e mesmo do Rio... E os comentaristas nem sempre ficavam só nos comentários porque vinham a Miracema, também, a fim de terem as confirmações das próprias palavras. E não eram desmentidos. Lá isso não eram, não.


Flávio Costa, o atual e magnífico “coach” do clube mais querido do Brasil, experimentou, em Miracema, o amargor da derrota, lutando pelo “Gragoatá”, de Niterói, ao lado de Alemão, Bibi, Luiz, Lima, Acir, Almeida e etc. Outros e vários gigantes da pelota aqui vieram e foram derrotados de forma convincente pelo Miracema F. C., cujo quadro formava assim: Amadeu (Aimoré), Ademar e Capeta; Ari, Jorge e Pergentino; Nestrala, Gentil, Bibino (Gazeta), Agrícola e Amaro Silveira. Que time de futebol!  Uma verdadeira máquina com as peças ajustadas e funcionando 100% bem! Chicrala Amim, Chicrala Salim, Wady Miguel, Marcelino Pereira Tostes, João Antunes Siqueira, Francisco L. Homem, Eudorico Manoel Alves e outros entusiastas do “velho futebol”, como diz o Cosi, davam tudo de si em prol do bom nome esportivo de Miracema, mantendo a forma técnica e física dos defensores do glorioso campeão invicto do norte fluminense. 


Tudo ia muito bem até que um dia...O fim chegou, repentinamente, sem que ninguém o esperasse.  Houve um jogo, o último do campeão, contra o “Ordem e Progresso”, de Bom Jesus do Itabapoana. Houve uma certa camaradagem a princípio, a que o povo chamou de “arranjos de compadres”, e o escore chegou a 2 a 1, pró visitantes... Depois tudo dava certo para eles e a nossa turma “não dava uma dentro”. Final: 2 a 1 contra o campeão! Cenas de desespero viam-se no campo da Av. Carvalho após o apito final. E estava escrita a última página da história do campeão invicto do norte fluminense. 


O povo acusou a diretoria de ter agido mal, fazendo camaradagem com os visitantes: acusaram-se jogadores e o desânimo pôs um ponto final na vida gloriosa do mais perfeito quadro de futebol que, talvez, já se tenha organizado no interior do país. Cessando o Miracema F. C. as suas atividades, o seu grande rival e não menos glorioso América F. C., fundado por Oscar Barroso, ex-campeão do América F. C., do Rio, recolheu a sua bandeira e foi passado um atestado de óbito ao desporto miracemense. 


Tempos mais tarde eu e o Galieta organizamos o Independência, transformado, depois, no E. F. C., que teve uma história razoável, pelejando ao lado de Flamengo, Fluminense e Comercial no campeonato miracemense de futebol, realizado pela Associação Miracemense de Esportes Atléticos, filiada à Liga Esportiva Norte Fluminense. Nesse período tivemos um futebol menos poderoso, no entanto ainda se fez alguma coisa apreciável, inclusive a organização do selecionado da L. E. N. F., que deu trabalho ao de Niterói, em pelejas memoráveis, aqui e na capital fluminense. 


Depois o desânimo voltou e o desporto miracemense caiu em profundo marasmo, de nada valendo os esforços hercúleos de um Waldemar Viana, instrutor do T. G. 274, que chegou a fundar, aqui, um Centro de Educação Física, em magníficas condições. Mas os desocupados chegaram ao ponde de depredarem a obra que ele organizara com o concurso dos bons miracemenses e tudo caiu de novo, no marasmo, nem se falando mais em esportes entre nós. 


Rubens Carvalho, Olavo Monteiro de Barros, Gerson Alvim, Alfredo Damian, Oldemar Machado, Orterige Granato, e etc., de quando em vez tentavam levantar o esporte, auxiliado pelo conhecido “coach” Aniceto Carvalho, mas tudo em vão. É que havia muita pressa em fazer jogos e as derrotas eram acachapantes, verdadeiramente desanimadoras. A última excursão da série intentada pela dupla Rubem-Olavo foi a Carangola e o desastre foi sem precedentes. 


Estava assim o desporto miracemense quando regressei de Leopoldina e organizei o Clube Esportivo Miracemense, auxiliados pelos bons desportivas que nunca se deixaram vencer pelo desânimo. Havia aqui apenas o movimento isolado de Nésio, Dizinho, Gabeto, Saulo, Rocha e etc., no Ginásio, assim mesmo “neca” de futebol... 


O Clube Esportivo Miracemense desfraldou a bandeira alvinegra do antigo campeão, e chamou os nossos desportistas para a obra de ressurgimento esportivo de Miracema. Com a chegada do técnico Manoel Soutinho da Cruz, do Profº Manoel Ramos Júnior, e com o entusiasmo sadio das professoras de Educação Física, conseguimos organizar times de voleibol masculino, feminino, de basquetebol e de futebol e lá estamos com a Liga Miracemense de Desportos fundada, pronta a filiar-se à F. F. D. e contando nada menos que seis clubes pertencentes aos três distritos de que se compõe o nosso município. 


O nosso sexteto de voleibol feminino é o mais poderoso do norte fluminense: o masculino, treinado a contento, não tem competidor, também, na região em que estamos colocados. Vamos dar início aos torneios de voleibol, basquetebol e futebol dentro de alguns dias, visando ainda às disputas dos campeonatos que são instituídos, atualmente, pela F. F. D. 


É o caso, porém, de se perguntar: poderá Miracema recuperar a hegemonia esportiva do norte fluminense? Cremos que sim e é para isso que estamos lutando, denodadamente, contando com a colaboração de todos os miracemenses, não só os que aqui estão, mas, também dos que estão fora, como Aymoré, Zezé, Aderbal, Geraldo Neves, Aírton e Jurandir, etc.



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