Como todos nós sabemos, no dia 28 de junho é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, instituído como forma de conscientizar a população mundial sobre o combate à homofobia e reforçar a ideia de que a comunidade LGBTQIA+ deve imensamente se orgulhar de sua sexualidade.
LGBTQIA+ = lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexual e + (grupos e variações de sexualidade e gênero).
A representatividade LGBTQIA+ em novelas brasileiras foi ocorrendo com o tempo, à medida em que o assunto foi sendo discutido pela sociedade e a conscientizando do mesmo.
Até a metade dos anos 1980, os homossexuais eram praticamente proibidos nas telenovelas e o assunto era tratado como um tabu. A partir da década de 2000, a abordagem foi ampliada.
Para muitos, atualmente, a representação do gay caricato de programa de humor (tipo Crô e Téo Pereira), já não é mais tão bem aceita (nem nas novelas, nem em programas de humor) – apesar de ainda existir.
Colocarei aqui alguns personagens LGBTQIA+ pioneiros em novelas, que abriram caminho para que a abordagem fosse imensamente ampliada em nossas novelas, para que Félix, Carneirinho, #Clarina, Ivana (e até Crô e Téo Pereira) pudessem brilhar imensamente.
1 – Rodolfo Augusto (Ary Fontoura) em Assim na Terra Como no Céu (1970): a primeira vez que uma novela ousou apresentar um personagem gay: um costureiro afeminado e caricato. Na época não se podia mais do que isso.
2 – Conrad Mahler (Ziembinski) em O Rebu (1974-1975): o anfitrião da festa em que ocorre o assassinato da trama. Ao final, descobre-se que Conrad era o assassino: matou por ciúmes de seu “protegido” Cauê (Buza Ferraz). A Censura Federal, à época, não permitiu que se falasse do romance dos personagens. Porém, para bom entendedor, estava claro do que se tratava.
3 – Agenor (Rubens de Falco) em O Grito (1975-1976): um homem angustiado que, durante o dia, vivia dentro armário, na relação com a família, trabalho e vizinhos, mas que libertava-se ao vestir-se de mulher para perambular na noite paulistana.
4 – Cláudia Celeste em Espelho Mágico (1977): durante o Regime Militar, travestis eram proibidas de aparecer na televisão. Claudia Celeste ganhou uma ponta como dançarina na novela. Quando foi descoberto que a atriz não era uma mulher, a travesti teve de sair de cena. Cláudia Celeste pôde retornar dez anos depois, em Olho por Olho, na TV Manchete, como uma travesti que se envolvia com o personagem de Mário Gomes.
5 – Dr. Pacheco (Sérgio Mamberti) em Dinheiro Vivo (Tupi, 1979), o sisudo personagem tinha um segredo em casa: um santuário em homenagem a Marilyn Monroe. Na trama, quando sua esposa morre, Pacheco não consegue se relacionar com outras mulheres, pois em todas via a figura de Marilyn Monroe. Até que um dia, traveste-se de Marilyn para cantar e dançar como se fosse a estrela norte-americana.
6 – Inácio (Denis Carvalho) em Brilhante (1981-1982): estava claro que o personagem era gay e que sua mãe, a possessiva Chica Newman (Fernanda Montenegro), faria tudo para ver o filho casado com uma mulher. A Censura Federal proibiu que se usasse a palavra gay ou homossexual. Ao final, após um casamento infeliz com uma mulher, Inácio parte com um amigo para viver feliz em outro país, mais tolerante.
7 – Anabela Freire (Ney Latorraca) em Um Sonho a Mais (1985): Volpone (Ney Latorraca), travestido, levou sua personagem, a secretária Anabela, a conquistar o coração de Pedro Ernesto (Carlos Kroeber). Em uma cena divertida, acontece o primeiro selinho entre homens em uma novela da Globo. Entretanto a Censura Federal não gostou e mandou tirar as primas de Anabela, Florisbela e Clarabela (Marco Nanini e Antônio Pedro também travestidos) da trama.
8 – Mário Liberato (Cecil Thiré) em Roda de Fogo (1986-1987): vilão gay culto e refinado que vivia com seu mordomo Jacinto (Cláudio Cury), a que atribuia-se uma relação mais que profissional.
9 – Laís (Cristina Prochaska) em Vale Tudo (1988): com a abertura política e o fim oficial da Censura Federal, ficou mais fácil abordar a homossexualidade em novelas. Laís tinha uma relação com Cecília (Lala Deheinzelin) e, após a morte da companheira, encantou-se por Marília (Bia Seidl). O autor Gilberto Braga discutiu parceria civil e herança, no caso da morte de Cecília.
10 – Ninete (Rogéria) em Tieta (1989-1990): primeira novela de Rogéria. Ninette era a administradora dos negócios de Tieta (Betty Faria) em São Paulo e chega a Santana do Agreste provocando um verdadeiro terremoto na cidadezinha: em uma discussão, ela engrossa a voz e revela que seu nome verdadeiro é Valdemar.
11 – Sandrinho e Jeferson (André Gonçalves e Lui Mendes) em A Próxima Vítima (1995): os amigos de faculdade foram, aos poucos, revelando uma relação que ia além da amizade. Quando o autor Silvio de Abreu deixou claro o romance dos rapazes, o público até que aceitou bem, pois já simpatizava com eles (estudiosos, bons filhos). Ainda assim, o ator André Gonçalves foi vítima de homofobia por conta de seu personagem.
12 – José Maria (Guilherme Piva) em Xica da Silva (1996-1997): o gay de bom coração se tornou um dos personagens mais populares das novelas da TV Manchete. Ele chegou a se casar com a amiga Elvira (Giovanna Antonelli), mas era de fato apaixonado pelo escravo Paulo (Déo Garcez).
13 – Leila e Rafaela (Silvia Pfeifer e Christiane Torloni) em Torre de Babel (1998): desta vez o público não gostou de ver duas conhecidas atrizes de caso na novela. A rejeição culminou com a morte das personagens na famosa explosão do shopping center. Em comparação com os namorados de A Próxima Vítima, o autor Silvio de Abreu justificou que o público simpatizava com Jeferson e Sandro desde o início e a homossexualidade só foi revelada na metade da trama. Diferente de Leila e Rafaela, já que, desde o começo, estava claro que eram um casal de lésbicas.
14 – Ramona (Cláudia Raia) em As Filhas da Mãe (2001): a primeira transexual das novelas. Ramon virou Ramona e enlouqueceu Leonardo (Alexandre Borges) de paixão (e tesão), mas ele recusou a aceitá-la depois que descobriu que ela já fora um homem um dia.
15 – Clara e Rafaela (Alinne Moraes e Paula Picarelli) em Mulheres Apaixonadas (2003): o casal de lésbicas teen, perseguido pela invejosa Paulinha (Ana Roberta Gualda), fez sucesso. Ao final, o máximo que se viu foi um selinho na penumbra, em uma representação de Romeu e Julieta no teatro do colégio.
A partir de 2004 – com as lésbicas Eleonora e Jennifer (Mylla Christie e Bárbara Borges) em "Senhora do Destino" –, os LGBTQIA+ passaram a aparecer com mais consistência e relevância em novelas.
Nas novelas o primeiro beijo entre mulheres foi entre Marcela e Marina (Luciana Vendramini e Gisele Tigre), em Amor e Revolução, no SBT, em 2011. Entre homens foi Félix e Carneirinho (Mateus Solano e Thiago Fragoso) em Amor à Vida, em 2013.
Sabemos que ainda existe um longo caminho a ser trilhado. A presença constante de homossexuais em novelas é importante não apenas para discutir a homofobia e tantos problemas associados as relações homofeativas, como também para dar visibilidade à comunidade LGBTQIA+ e para conscientizar de vez o público de que o respeito pelo próximo tem que existir.
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