(Neto não tinha bons números para ir à Copa de 1990)
Entre as várias histórias envolvendo a seleção brasileira de Lazaroni que disputou a Copa de 1990, uma delas que gera polêmica até hoje é a ausência de Neto, então meia do Corinthians. Mas será que o xodó da Fiel foi mesmo injustiçado pelo treinador?
Exímio cobrador de falta, dono de um chute forte, Neto tinha boa visão de jogo, dava ótimos lançamentos e era talentoso. Isso tudo é inegável. Com seu talento, poderia, sim, ter ido à Copa do Mundo de 1990. Apesar de ser considerado por muito com um bom batedor de faltas e só, inclusive por Lazaroni, Neto poderia, numa bola parada ou num lançamento, ter ajudado o Brasil a passar pela Argentina nas oitavas de final. Mas essa seria uma visão muito simples.
Copa dos Campeões da Europa. Silas, que jogava no Sporting, tinha na bagagem a disputa da Copa do Mundo de 1986 no México e ainda ganhou a camisa 10 de Lazaroni. Habilidoso, acabou decepcionando no Mundial, mas sua convocação nunca chegou a ser discutida.
Já o meia Bismarck, então com 20 anos, era uma das maiores promessas do futebol brasileiro. Campeão brasileiro com o Vasco em 1989, quando fez uma ótima parceria de ataque com Bebeto, Bismarck se destacava pela habilidade, velocidade e pela finalização. No Carioca de 1990, foi o vice-artilheiro do time com 11 gols. E até a convocação para a Copa do Mundo, era um dos principais nomes do Vasco na primeira fase da Libertadores — naquele ano o Vasco foi até as quartas de final, quando acabou eliminado pelo Atlético Nacional-COL.
Naquele momento, na época da convocação, Bismarck estava até mais em alta do que Neto. Em 1989, o jogador carioca tinha ainda disputado o Mundial Sub-20 com a seleção brasileira (que chegou à semifinal) e feito algumas partidas com a seleção principal aos 19 anos. Mas em 1990, entrou apenas em três amistosos pré-Copa e sequer entrou em campo durante o Mundial. Apesar de suas qualidades, não se via em Bismarck um jogador que pudesse entrar e mudar o panorama de uma partida. Algo que pesou depois nessa discussão sobre a ausência de Neto, que era um jogador que poderia resolver um jogo com uma bola parada.
Já o meia Tita, que jogava também como ponta-esquerda, acabou sendo uma das convocações mais surpreendentes de Lazaroni no aspecto negativo. Aos 32 anos, já veterano para a época, Tita acabou convocado mais pela experiência e pelo passado. No Vasco, chegou em novembro de 1989 e disputou menos de 10 partidas no time que conquistou o Brasileirão. Antes disso, tinha tido uma passagem discreta pelo modesto Pescara, da Itália. Jogador que nunca havia disputado uma Copa do Mundo, Tita teve um início de 1990 também regular pelo Vasco. Já pela seleção, tinha sido reserva na Copa América de 1989 (jogou apenas 11 minutos contra a Venezuela) e disputou apenas um jogo amistoso pré-Copa em 1990.
Se Neto não tinha números convincentes para ir à Copa de 1990, Tita também não. Mas ali pesou o fato de Lazaroni não ser muito simpático ao estilo de jogo de Neto e ao seu comportamento extracampo. Tita era velho conhecido do futebol carioca (e do próprio Lazaroni), era um jogador de sua confiança. Mas o tempo mostrou depois que Lazaroni errou na convocação de Tita e Bismarck. Não dá para cravar que Neto teria sido a melhor opção, mas certamente ele poderia ser mais útil naquele Copa em que a seleção não tinha um homem de bola parada.
(Por Rodolfo Rodrigues, Colunista do UOL)
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