Depois de anos colaborando com grande autores como Gilberto Braga e Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares saiu em voo solo em 1998 com a trama da novela Meu Bem Querer que estreava no dia 24 de agosto daquele ano e trazia para o horário das sete o regionalismo com realismo fantástico que o autor soube muito bem desenvolver, colaborando com Aguinaldo em sucessos do gênero como Tieta (1989), Pedra Sobre Pedra (1992), Fera Ferida (1993) e A Indomada (1997).
Meu Bem Querer tinha como eixo central a trama do quarteto de protagonistas – os mocinhos vividos pelo Murilo Benício (Antônio) e Alessandra Negrini (Receba) e os vilões Flávia Alessandra (Lívia) e Leonardo Brício (Juliano). Livia e Rebeca eram irmãs, filhas do pastor Bilac e ao conhecerem Antônio, afilhado do Padre Ovídio, pároco da cidade, se apaixonam perdidamente, porém ele só corresponde a Rebeca, o que ativa a inveja e raiva contida que Lívia sempre sentira da irmã. Devido as armações de Lívia e Juliano , Antônio e Rebeca acabam se separando, e os casais trocados, visto que Antônio se casa com Lívia e Rebeca com Juliano, vivem infelizes.
Meu Bem Querer discutiu a intolerância religiosa através dos personagens do saudoso Cláudio Corrêa e Castro, o Padre Ovídio e do Mauro Mendonça, o pastor evangélico Bilac. O Assunto estava em voga na época, e na trama os personagens disputavam os fieís de forma voraz, e apesar de amigos desde a infância se tornavam inimigos.
Personagens típicos do universo regionalista e do realismo fantástico não faltaram a Meu Bem Querer e chamaram atenção, como a Tonha da Pamonha (Arlete Salles), Barnabé de Barros (Osmar Prado), Jorgete (Rosi Campos), Zé da Rapadura (Cosmo dos Santos), mas foi a grande vilã Custódia, vivida pela Marília Pêra, o chamariz dramaturgo da novela.
A mulher mais rica da região e onde todos os acontecimentos passavam pelo seu crivo, Custódia era uma soma de grandes vilãs do realismo fantástico. Tinha um pouquinho de Perpétua de Tieta (1989), Gioconda de Pedra sobre Pedra (1992) e Maria Altiva de A Indomada (1997). Há anos Custódia não saia de casa e era tida por muitos moradores da cidade com um fantasma, mas era bem viva e sabia se fazer presente quando necessário. Mais um grande trabalho de composição da sempre perfeita Marília Pera. Seu desempenho com a personagem rendeu a atriz o prémio Master 98 de melhor atriz do ano.
Curiosamente, Marília Pêra pediu para sair da trama. A atriz não estava gostando dos rumos que sua personagem tomava. Principalmente pelo fato de matar crianças na trama. Inclusive esse foi o principal motivo alegado pela atriz em entrevista, onde também se desculpou com o autor. A Solução criada por Linhares foi assassinar Custódia e criar o famigerado “Quem Matou?”. No final, Jorgete, a personagem da Rosi Campos, secretária da Custódia, foi a responsável pelo crime.
Lilia Cabral entrou no decorrer da trama para dar vida a Verena, a cunhada de Custódia, e que vinha a São Tomás de Trás para tirar proveito da situação depois da morte do marido. As cenas de embate entre elas foram um dos pontos fortes de Meu Bem Querer. Um literal show cênico entre Lilia e Marília.
Sem a empatia com o romance dos protagonistas, o público acabou se apegando a história de amor mais madura protagonizada por Ava e Martinho, os personagens de Ângela Vieira e José Mayer. Aliás,Ângela Vieira esteve perfeita na trama.
A novela denunciou a exploração do trabalho infantil através dos personagens Tico (Yan Whately) e Bisteca (Carolina Pavanelli). As duas crianças nunca tinham ido ao colégio e trabalhavam nas plantações de caju das fazendas de Custódia (Marília Pêra) para ajudar a sustentar a família. Meu Bem Querer não só apontou o problema como apontou soluções viáveis para sua resolução.
Curiosidades:
Algumas das ruas de São Tomás de Trás, cidade fictícia da novela, foram batizadas com nomes de personagens de destaques em tramas que Ricardo Linhares colaborou como Aguinaldo Silva : Travessa Professor Praxedes de Menezes de Fera Ferida (1993), Ladeira Altiva de Mendonça e Albuquerque de A Indomada (1997), Beco da Cinira de Tieta (1989), Rua Gioconda Pontes e Largo Dona Francisquinha Queiroz de Pedra sobre Pedra (1992).
Na cena final do último capítulo a Globo prestou uma homenagem ao saudoso diretor Paulo Ubiratan, falecido em 1998, quando as primeiras cenas da novela começaram a ser gravadas. Foi veiculada a mensagem: “Esta novela foi dedicada a Paulo Ubiratan, nosso bem-querer”. Segundo Ricardo Linhares, foi o diretor quem o ajudou a conceituar a novela com a escalação de quase todo o elenco.
Para escrever a novela, Linhares teve a colaboração de Leonor Bassères, Nelson Nadotti, Maria Elisa Berredo e Glória Barreto. A direção foi de Luís Henrique Rios, João Camargo e Alexandre Avancini, direção-geral de Roberto Naar.
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